sexta-feira, 24 de maio de 2024

MARCOS SILVA DEFENDE O BAIRRO PARAÍSO, APÓS VAZAR FALA DE PROFESSOR CHAMANDO O BAIRRO DE DESGRAÇA E QUE SÓ TINHA CABARÉ DE QUENGA BARATA.











O ativista, morador e líder do bairro Paraíso, Marcos Silva, usou suas redes sociais para rebater de forma categórica a fala "criminosa" do professor identificado como Laelio, que em um grupo de WhatsApp proferiu diversos ataques ao bairro e a seus moradores.

O professor Laelio não é residente de Santa Cruz. Ao que parece ele apenas visitou o Alto de Santa Rita e ao passar pelo bairro Paraíso teve a pior impressão possível da comunidade, levando-o a fazer um comentário extremamente preconceituoso contra a comunidade.

Marcos Silva, além de rebater o professor, pede que o SINTE/RN e a Secretaria Estadual de Educação investigue a conduta do professor.

Abaixo, o texto de Marcos Silva em seu Facebook:

Resposta ao (des)professor Laelio Costa, que mesmo não conhecendo nosso bairro Paraíso, se sentiu no direito de nos ofender ao dizer que nossa comunidade é uma “DESGRAÇA”, que só tem “CABARÉ DE QUENGA BARATA”, que só tem “BAR REEIRA” e “BEBO QUE NÃO TEM UM PAU PRA DAR NUM GATO.”

Senhor Laelio! Primeiro, em respeito aos verdadeiros professores, profissionais honrados e magníficos, irei considera-lo um “(des)professor.” Neste momento, mesmo que de forma subjetiva, lógico, estou tirando o título de professor de Vossa Senhoria por crer que envergonhas a categoria.

Segundo, deixar claro que sua fala não é uma fala infeliz, embora você se comporte como tal. Ela é uma fala criminosa, uma vez que se encaixa no chamado “preconceito urbanístico” que é quando pessoas como senhor profere discriminação baseada na localização geográficas das pessoas e dos bairros em que elas vivem, estando, portanto, passivo de ação judicial.

O senhor, ao não se enxergar como proletariado que é, representa aquela parcela da sociedade apodrecida que se considera está acima dos outros, seja por questão econômica (o que não é o seu caso), seja por qualquer outra razão de percepção de vida e de mundo.

O fato de o senhor não conhecer nossa comunidade, ou seja, ter apenas passado de passagem para visitar o Alto de Santa Rita, mas realizar tamanho ataque ao nosso lugarzinho e a nossa gente, revela mais sobre você do que sobre nós.

Sua criminosa fala evidencia que seu problema não é com o nosso PARAÍSO (lugar que você não conhece e, evidentemente, a gente dispensa), mas com as periferias em geral e com a camada da população que nelas vivem. O senhor é o tipo de ser humano que não quer em hipótese alguma sentir o cheiro de pobre, pegar na mão de pobre, conversar com pobre, andar com pobre, ajudar um pobre. Para a sua tristeza, mesmo não o conhecendo, apenas analisando o que vi em suas redes sociais, lamento dizer, mas o senhor também é pobre. No máximo, muda a categoria de pobreza, mas foi proletariado, é um pobre. Um pobre enxerido, mas não deixa de ser pobre. Digo isso só para situar o senhor no seu devido lugar, caso tenha dificuldade de compreende-lo.

Creio que se o senhor pudesse fazer algo por comunidades como a nossa, não faria nada para que esses lugares evoluísse e seus habitantes vivessem melhor. Não! Longe disso, muito provavelmente o senhor, como um bom “inquisidor” tocaria fogo, transformando esses lugares em cinzas e as pessoas em pó.

Não sei onde o senhor mora, é possível que não seja em um lugar tão diferente assim do Paraíso, uma vez que és um proletariado, repito, PROLETARIADO (essa palavra deve doer no senhor), mas é isso que o senhor é, um proletariado. Assim sendo, o lugar que tu resides não deve ser nenhum LEBLON.

Também não sei quais restaurantes, bares e cabarés o senhor frequenta, sem dúvida, pela sua visão de mundo, são melhores de que os que tem no nosso Paraíso (embora, no Paraíso não tenha cabaré de qualidade nenhuma) e para a afetação de seu ego digo-lhe que, mesmo o senhor adentrando os espaços mais finos e requintado, o senhor não deixa de ser proletariado, e por mais que queira, jamais será reconhecido como parte deles; dos que estão nestes espaços por condição financeira. A elite, (des)professor! Olhará para o senhor, como o senhor olha para a gente, com “rabo de olho” e com desprezo, daí a necessidade de darmos as mãos, ao invés de estamos se alto digladiando.

O Paraíso, (des)professor! Não é diferente de nenhuma periferia deste Brasilzão de meu Deus, que são o que são, não por escolha, mas pelo abandono do poder público e pela exploração escravagista e histórica de uma elite mesquinha e repugnante. O senhor como professor, sobretudo de Geografia (aí que vergonha) deveria saber disso. Temos aqui todas as mazelas inerentes às periferias violência, drogas, prostituição, desemprego, ruas sujas, esburacadas, falta saúde... Mas também tem suas belezas e encantos, embora você não veja.

Como em toda periferia, nós, matamos um leão por dia em busca da sobrevivência, mas o que o senhor precisava ver era o encanto da nossa gente. Eu não lhe convidaria para conhecer nossa comunidade, pois não costumo me juntar com gente como o senhor.

O senhor discrimina nossos bares, não sabes tu como era bom tomar uma lapada de cana na Palhoça do Aldo. Depois, passar no Bar de Cabeleira, tomar outra lapada de cana, dançar um forró com uma cabocla do Paraíso (não quenga barata, como diz o senhor), em seguida, subir mais um pouco até o bar de seu João (na pracinha), tomar outra lapada de cana, comprar uns confeitos, no carrinho de confeito de seu Beja (dependendo da quantidade, ele ainda dava uns a mais), pegar subindo em direção as 3 bocas (onde o senhor passou pra ir para a Santa), até o bar da TIETA, tomar mais umas lapadas de cana, na volta, parar na Toca do Josa, outra lapada de cana, dançar mais forró, assim o dia amanhecia, para os que curtia à noite em nossa comunidade.

Na cultura, o senhor precisava ver o Boi de Reis do saudoso mestre Antônio da Ladeira (a poeira cobria nas ruas esburacadas do nosso bairro); o senhor precisa ouvir os tambores e as passistas da Unidos da Ponte (uma das poucas escolas de Samba do interior); precisava ver o pastoril da Paulo Afonso; ver as rodas de teatro do Arte Viva (instituição cultural de pé há 35 anos na comunidade); precisa ver nossas quadrilhas Acadêmicos do Paraíso, Coentão, Nova Geração, Paulo Afonso e tantas outras; precisar ver e ouvir nossos músicos (são centenas); ver nossos dançarinos (são centenas), se deliciar com nossos poetas rabequeiros e cordelistas, emboladores de coco, sanfoneiros, violeiros. Apreciar nosso artesanato... (se bem que acho que o senhor deve gostar de outro tipo de arte).

O senhor não faz ideia como era bom ver a molecada alugar as bicicletas de seu Inácio Calango e sair desembestados pelas ruas do Paraíso, por cima de pau e pedra só pela alegria de sentir o vento bater no rosto.

Igualmente bom era brincar de bola nas areias do Rio Trairi e escalar as paredes do açude, após a maior tragédia que tivemos (a enchente de 81).

Àquela ponte que o senhor passou por cima, para ir visitar a Santa, por exemplo, resistiu a enchente de 1981, assim como nossa comunidade resistiu. Aliás, tivemos de resistir a enchente, mas também temos de viver resistido a pessoas como o senhor.

Sei que estes fatos não o comoverá (nem eu perderia tempo tentando), pelo contrário, provavelmente o senhor irá dizer que eu estou glamourizando a pobreza, ou esteja de mi mi mi. Talvez tenha a audácia de dizer que “não compreendi bem suas palavras”, ou a velha desculpa esfarrapada, característica de todos os preconceituosos que mostram sua verdadeira face “não foi isso que eu quis dizer”. Não importa, o fato é que o senhor fez, como tantos, inclusive em nossa própria cidade faz, infelizmente, agredir a todos nós com seu preconceito burro, ignorante e criminoso. Ah! Por favor, só não corrija meus erros gramaticais.

Saiba, (des)professor! Que o Paraíso, pode não ser um “Paraíso” para o senhor, mas para nós, nosso lugarzinho é um pedacinho do céu.

Por fim, só mais duas coisas:

1 - Não é nossa comunidade que dá medo, mas sim, o pensamento de pessoas como o senhor; e

2 - Que a direção do SINTE/RN e a Secretaria Estadual de Educação abram processos disciplinares para apurar a conduta de Vossa Senhoria que, a meu ver, envergonha o quadro destas importantes instituições.

Por Marcos Silva

#VivaOParaíso.
#AbaixoAoPreconceito
#InvestigaçãoJá
#LugarDePreconceituosoÉNaCadeia




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