terça-feira, 29 de junho de 2021

Caso Lázaro escancara sensacionalismo da TV aberta

 

Foram 20 dias com policiais colocando a vida em risco na “caça” a um psicopata assassino e 20 dias com TVs abertas se engalfinhando numa disputa para ver quem se aproveitava mais dessa caçada para ganhar uns míseros pontos no ibope.

Mais uma vez, como tem ocorrido nas últimas décadas, as TVs abertas se atiraram num frenesi sensacionalista e pouco informativo a partir de um caso policial e da barbárie.

Pode ser Lázaro, Eloá, Champinha ou a chacina de 17 jovens numa favela de São Paulo, não importa.

Aparentemente o que importa para a TV aberta é ser sempre pródiga em “desumanizar” os fatos e os envolvidos e, em muitos casos, em desinformar ou criar ficção única e exclusivamente atrás de audiência.

O que a Record (“Balanço Geral” e “Cidade Alerta”), RedeTV (“Alerta Nacional”), Band (“Brasil Urgente”) e Globo (até o “É De Casa” entrou na roda!) fizeram nos últimos dias foi um tributo ao mau jornalismo.

Apresentadores tentaram impressionar o telespectador com falas exageradas, falsas expectativas, teses furadas e muita, mas muuuita desinformação.

Alguns deitavam e rolavam sobre o caso por horas a fio e ao vivo, como se o país e as cidades não tivessem outros problemas e casos a cobrir.

De repente, por quase três semanas, não existiam mais problemas políticos e econômicos no Brasil; não era mais preciso prestar nenhum serviço ao público; não havia outros casos graves ou relevantes a cobrir.

Nem mesmo —pasmem!— a badalada previsão do tempo interessava mais!

A pergunta é: qual a utilidade disso para as emissoras? (para os telespectadores a gente já sabe)

Ainnn, ganhar ibope, claro”, dirão os parvos.

Bom, então é preciso explicar mais uma vez: NENHUM anunciante qualificado se propõe a patrocinar programas desse tipo.

Resumindo: dão ibope? Sim. Têm anunciantes? Não.

Programas policialescos como os citados acima (exceto o matinal de sábados da Globo, que virou uma excrescência da TV), e outros antigos como o “190 Urgente” (Ratinho), “Aqui Agora”, e “O Povo na TV” têm em comum uma coisa: nenhum deles jamais teve ou tem um grande patrocinador ou anunciantes de qualidade e peso.

Sobrevivem de caraminguás e “merchandisings” temporários. São no máximo caça-níqueis, cujo maior objetivo é tentar elevar os índices de ibope para o que vem a seguir. A maior parte nem isso consegue.

Ibope pouco importa

Sobre o ibope, dados prévios da Kantar Ibope obtidos pela coluna mostram que das 7h às 17h desta segunda (28) a Record foi “líder” de ibope em São Paulo.

A emissora da Barra Funda obteve quase 10 pontos, contra 9 da Globo e quase 4 do SBT (cada ponto vale por 76 mil domicílios).

Mas, repito, quem se importa? Acham que a Record ou alguma outra emissora ganhou ou vai ganhar mais dinheiro e, mais importante, prestígio jornalístico por causa dessa cobertura?

A resposta é não.

Afinal, que banco vai querer seu nome e seu logo aparecendo na tela após a morte de um bandido de aluguel?

Que grande empresa terá interesse em anunciar nos intervalos de uma “atração” (sic) que fala dias seguidos de mais uma chacina na periferia?

Que agência de publicidade ficará sequiosa de ter seu cliente vinculado a um programa que é sanguinário dia sim, outro também?

Podem chamar publicitários de qualquer coisa, menos de serem burros.

Pelo menos eles jamais deram ibope para esse tipo de conteúdo grotesco que reduz ainda mais o nível da já decadente TV aberta.

Ainda bem.

Uol



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