Fui ao enterro de Fábio José Silva de Araújo, ou simplesmente Dr. Fábio. Contemplei seu rosto sério e pálido, tão contrastante com a face sorridente e cheia de vida que ele projetou em meu imaginário ao longo de nosso convívio.
Ali estava ele em sua última viagem, dignamente vestido e cercado de flores. Fiquei a pensar nos sinceros pesares dos que ali estavam para dele despedir-se. Uns choravam, outros apenas suspiravam, deixavam escapar monossílabos, e meneavam a cabeça; os olhares, em geral, falavam de um luto profundo.
Tive a oportunidade de ser seu professor e, em todo o tempo em que lhe ensinei, sempre tive boas impressões a seu respeito. Nunca precisei levantar a voz para exigir sua atenção; nunca tivemos qualquer discussão, por mínima que fosse. Ele era daqueles alunos que nos motivam a sair de casa para o trabalho. Sempre recebia a mim - e creio que aos demais colegas - com um cativante sorriso. Quando queria uma nota maior, solicitava-a com simpatia e não se irritava se não o atendíamos. Após uma e outra vez que fez isso, passamos a brincar, sempre que nos víamos, fazendo gestos que indicavam sua solicitação, e ríamos.
Estudiosíssimo como era, destinava-se a tornar-se o que veio a ser, um bem-sucedido e amado profissional. Inteligentemente, superou as muitas adversidades às quais nasceu exposto. Grande era seu potencial para projetar-se mais e mais na sociedade. Difícil seria quantificar os muitos laços de amizade que criou durante sua curta existência.
Deixou-me uma última boa impressão. Ao passar pelo centro da cidade, vi que haviam aberto um novo escritório e fui até lá para ver de quem se tratava. Cheguei num instante em que ele saía e ambos nos surpreendemos com a presença um do outro, pois há muito não nos víamos. Surpresa maior causou-me ele quando, inclinando-se em sinal de respeito mais de uma vez, disse-me: “Obrigado! Obrigado!” E acrescentou: “Hoje sou advogado e o senhor tem parte nisso!”
Aquilo me deixou emocionado. Ali estava eu, em vestuário simples, recebendo mostras de gratidão de um jovem bem vestido, na fase de colheita de tudo quanto semeara de bom nos árduos anos da vida estudantil. De imediato, me lembrei da cultura japonesa, que incentiva seus cidadãos a manifestarem respeito e gratidão por seus educadores – até mesmo o imperador faz isso! Era um jovem educado, na mais exata acepção do termo.
Não foi à toa que, nos diversos papeis que assumiu na vida, deixou marcas profundas. Suas raízes estão firmemente plantadas nos corações de todos que com ele conviveram onde, com certeza, encontram solo fértil e bem regado. A saudade dele há de dar sombra e frutos. Naquela mesa, naquela casa, naquele instante de lazer, naquela cadeira... sempre estará faltando ele, e a saudade dele há de doer em muitos.
Gilberto Cardoso dos Santos
Gilberto Cardoso dos Santos
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