segunda-feira, 26 de agosto de 2019

JOSÉ JOSIAS BEZERRA: DOUTOR, NÃO! MESTRE, SIM! Por Dinamérico Augusto




























Ele não era de grande estatura física, mas difícil seria avaliar o peso da estrutura de sustentação do seu saber, mesmo sem ser portador de título oriundo da academicidade. 

JOSÉ JOSIAS BEZERRA, filho de Sebastião Avelino Bezerra e Amélia Adélia da Fonsêca, nascido em 21/09/1916, nas cercanias de Santa Cruz, na área circundante da Região do Trairi. Casado com D. Maria Nunes Bezerra, de cuja união conjugal nasceram os filhos: José Nazareno Nunes Bezerra, Maria Nazaré Nunes Bezerra Hilda Nunes Bezerra, Maria Lúcia Bezerra Nunes e José Bezerra Filho (Dudé), que deveria se chamar José Josias Bezerra Filho, no entanto, a omissão do nome Josias deixamos por conta de um lapso involuntário do 2º Cartório de Registro, na época, sob a titularidade do escrivão José Fonseca, por sinal, meu padrinho, para quem o conhecia de perto, tal engano, consideraria natural, circunstancialmente. 

Foram 5 (cinco) filhos do casal MARIA e JOSÉ, todos de boa índole, dos quais tive a satisfação de trabalhar, por mais de 15 (quinze) anos, ininterruptamente, com o mais novo da família (Dudé), também apelidado pelos amigos de “Cacuruta”, pois qualquer semelhança, no caso, seria mera coincidência.

O período de trabalho suprarreferenciado ocorrera na Prefeitura de Santa Cruz, em cargos de nominação diferentes, porém, de funções correlatas, dividindo trabalho, responsabilidade, aprendizado e, também, preocupações, dada a natureza das atribuições que nos confiaram, mas, aqui, despojadamente, registro a notória competência profissional do amigo e colega de trabalho, notadamente, no curso do período referenciado. 

Voltemos a José Josias Bezerra, personagem central do texto, que era uma pessoa, antes de mais nada, íntegra, honesta e trabalhadora. Estudou somente o Ensino Fundamental, mas, desde cedo, demonstrou ser portador de admirável inteligência e, naturalmente, de um inigualável conhecimento da história e fatos político-administrativos da vida existencial de Santa Cruz. 

Começou a trabalhar com apenas 17 (dezessete) anos de idade, no exercício da função de apontador, na construção do Açude Inharé/Alívio, em 1937, década de grande agitação política/ideológica no Brasil. Em resumo, destaque-se: deposição de Presidente, Governo Provisório de Getúlio Vargas, Revolução Constitucionalista (São Paulo), Intentona Comunista, com as singularidades históricas nossas, em termos de RN. O estado foi república em 1817 e instaurou o primeiro governo comunista das Américas em 1935, etc, etc... 

Desde aquela época, JOSÉ JOSIAS BEZERRA já demonstrava indiscutível senso de responsabilidade, que se aliara à sua competência profissional, com o seu aguçado dom de conhecimento, em decorrência, não levou muito tempo, credenciou-se a assumir funções que demandavam comprovada sabedoria intelectual, além de outros atributos inerentes às investiduras nas funções pertinentes, tais como: Membro do Diretório Municipal de Geografia, em 1938; Agente do Jornal “O Ideal”, dirigido pelo poeta e professor “Cosme Ferreira Marques”, em 31/12/1938, portanto, naquele mesmo ano.

Assim, para efeito comprobatório do que ora relatamos, não foi à toa que José Josias Bezerra fora um dos principais colaboradores diretos de informações relevantes à elaboração do livro “MEMÓRIAS DE SANTA CRUZ”, de autoria do saudoso “Monsenhor Severino Bezerra”, irmão do “Major Theodorico Bezerra”, de antepassada e expressiva liderança política desta região, historicamente. 

Informo, por oportuno, que tive a honra de ter sido especialmente convidado pelo Pároco Local, à época Mons. Raimundo Gomes Barbosa, para fazer a saudação alusiva à Celebração das Bodas de Ouro de Ordenação Sacerdotal do Mons. Severino, evento ocorrido na Igreja Matriz Local, com muito júbilo. 

Prosseguindo sobre José Josias Bezerra, é importante referenciar que, em 1945, com a criação do cargo de Tesoureiro da Prefeitura de Santa Cruz, exercido anteriormente pelo Secretário Alfredo Xavier Bezerra, que fora Intendente de 19/07/1943 a 14/10/1945; em seguida, José Josias Bezerra assumira o cargo de Tesoureiro da Prefeitura Local, donde se conclui que ele foi o primeiro a ascender àquela função, em nível Municipal, segundo informe da pág. 69, do livro de Hermano Amorim, intitulado “SANTA CRUZ NOS CAMINHOS DO DESENVOLVIMENTO”. 

Na sequência deste resumo biográfico sobre José Bezerra, que se acrescente o cargo de Agente de Estatística do IBGE, durante 37 (trinta e sete) anos, quando se aposentou, tendo substituído “Cosme Ferreira Marques”, então, primeiro Agente nomeado em 1º/08/1946, meritoriamente. 

Tendo sempre uma atuação destacada, José Josias Bezerra, além de outros atributos pessoais, era afável na convivência com todos, normalmente no preencher eficiente do tempo destinado às suas atividades laborais. Então, por conta dessas e outras precedências positivas já referenciadas, ele exercera as funções de Assessor/Secretário de vários prefeitos, naquela época, denominados de INTENDENTES, entre os quais: Aderson Lisboa; Alfredo Xavier Bezerra; Cel. Júlio César Pinheiro, substituindo-o legalmente, na condição de Prefeito, de 31/01/1946 a 1º/03 do mesmo ano, portanto, José Bezerra foi Chefe do Executivo Santacruzense durante aquele breve período, entregando o cargo, sequencialmente, para Adauto de Sá Leitão, o último, salvo engano, que encerrou o período dos intervenientes municipais. 

Mas ele segue firme, em frente, continuamente, assessorando o maior número de prefeitos da história político-administrativa de Santa Cruz, ineditamente.

Que se acrescente, ainda, os prefeitos eleitos constitucionalmente: o primeiro, Jácio Luiz Bezerra Fiúza, o mais jovem Prefeito eleito, até então, no município de Santa Cruz; João Bianor Bezerra, pai do ex-Senador Fernando Bezerra; José Ferreira Sobrinho, pai de José Lindolfo de Carvalho; José Rodrigues da Rocha, pai do ex-Prefeito José Péricles F. da Rocha; Hildebrando Teixeira de Souza, filho de Seu Tito, ex-funcionário dos Correios de Santa Cruz; Gilson Alves de Andrade, na Gestão de quem fui Secretário Municipal de Educação; idem na Gestão do Prefeito Francisco Medeiros Sobrinho (Francisquinho); este, último da relação, todos assessorados por José Bezerra, perfazendo um total de 11 (onze) Prefeitos, entre eleitos e intendentes. 

Durante os mandatos dos dois últimos Prefeitos imediatamente nominados, tive a sorte e a honra de ser colega de repartição de José Josias Bezerra, a quem, no curso desse tempo, tratávamos carinhosamente de BEZERRINHA, período que me rendeu muitos dividendos em termos de conhecimento mais detalhado da história de Santa Cruz, bem como no que concerne à redação de correspondências, nas suas diversas modalidade e destinação. 

Ele escrevia como ninguém. Às suas escrita e linguagem, juntar-se-iam técnica, coerência, elegância e erudição. Evidente, com a observância do coloquial, indispensável para uma boa redação, e consequente compreensão. 

Sabia de tudo sobre os fatos políticos, administrativos e culturais do município, com especialidade, desde os primórdios da República Nova até os tempos atuais, os quais eram relatados oralmente por ele, com singular precisão. Pela demonstração do conhecimento com que ele descrevia oralmente as coisas da cidade, nunca hesitei em cognominá-lo de o “Câmara Cascudo de Santa Cruz”, com muita convicção. 

A propósito, por falar em Câmara Cascudo, reconhecido como o maior de todos os intelectuais norte-rio-grandenses, nascido em 30/12/1898, em Natal/RN, e falecido em 30/06/1986, ele foi o prefaciador do livro de poesias do Prof. “Cosme Ferreira Marques”, intitulado “CANASTRA VÉIA”, exatamente na pág. 81, folhas anexas, tem uma poesia contendo 5 estrofes cujo título é “MEUS SINCEROS EMBORAS”, é, pois, uma dedicatória do Prof. “Cosme Marques” ao amigo José Josias Bezerra, cujo teor é uma preciosidade de homenagem e construção poética, que, por si só, retrata as qualidades do Mestre “Bezerrinha”, e o quão era merecido. 

Perguntado sobre o Açude Santa Rita e quem o teria construído, ele respondera que aquela obra remontava à época de D. Pedro II. Quanto ao marco construído em plena fundação daquele açude, teria sido na Gestão do Dr. Odorico Ferreira de Souza. No tocante à denominação de “4 de Março”, do antigo campo de futebol da cidade, segundo Bezerrinha, era uma homenagem à data da partida do Prefeito/Intendente Cleto Antunes, pois, naquele período, existia uma oposição muito forte e radical a ele, que teria sido indicado no início da década de 30, no Governo Provisório de Getúlio Vargas.

Ele era comedido nas colocações e nas respostas. Falava pausadamente, mas com extraordinária lucidez. Quando estávamos conversando, anos passados, retroagíamos aos distantes tempos idos. Recuperávamos fatos, às vezes inéditos, no ressurgimento de pessoas, buscando, no caso, recompor não um espaço inexistente ou um mundo desaparecido, mas, sobretudo, o sentido e o reluzir de uma época política, na qual a cidade de Santa Cruz vivera a venturosa visita de praticamente dois Presidentes da República: Juscelino Kubitschek e João Belkior Marques Goulart; este último, inaugurando a energia de Paulo Afonso em Santa Cruz, na Gestão do ex-Prefeito Clodoaldo Medeiros, no início dos Anos 60, então. 

José Josias Bezerra foi o meu Mestre em vários aspectos da vida, inclusive, na vida profissional, especialmente na condição de companheiro de instituição. Minha homenagem é singela, porém, verdadeira; ela reflete respeito, reconhecimento e gratidão. Não se restringe, apenas, à imprescindibilidade de sua valiosa colaboração, mas também, à relevância dos seus serviços prestados à Coletividade Santacruzense, no seu campo de atuação. 

Em homenagem a ele, concluindo, uma frase da poetisa Cora Coralina: “O saber se aprende com os Mestres. A sabedoria, só com o corriqueiro da vida. 

Às vezes, penso em parar. Não! tenho muito para escrever ainda sobre ele e outros ilustres santacruzenses. Lembrei-me agora do grande “AIRTON SENNA”: “Quando penso que cheguei ao limite, descubro que tenho forças para ir mais além.” Com a graça de Deus! 

Um abraço fraterno da minha família à família do nosso ilustre homenageado, BEZERRINHA, falecido em 09.02.2013! A ele, nossas eternas saudades! 

Até o próximo!

Dinamérico Augusto de Medeiros










Um comentário:

  1. Parabéns pela brilhante matéria e, principalmente, pela homenagem! Tive a honra de conhecê-lo(conviver), pois trata-se do meu avô. Um dos homens mais honestos e inteligentes que já conheci. Saudades... Agradeço, em nome de toda a nossa família, ao amigo Dino e ao Jornalista Robson Santos.

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