O presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, disse à Folha que os reajustes nos preços dos combustíveis se deram num contexto de duas “guerras” contínuas e levaram em conta o sofrimento de famílias pobres e a economia do país.
Desde o anúncio dos reajustes para as distribuidoras, na última quinta-feira (10), o general vem sendo criticado pelo Palácio do Planalto.
No sábado (12), o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou: “A Petrobras demonstra que não tem qualquer sensibilidade com a população. É Petrobras Futebol Clube e o resto que se exploda.”
Silva e Luna foi indicado por Bolsonaro para comandar a Petrobras. A indicação tem pouco mais de um ano.
O mega-aumento anunciado pela Petrobras foi de 18,8% no preço da gasolina, de 24,9% para o diesel e de 16,1% para o gás de cozinha vendido às distribuidoras.
“No contexto de duas ‘guerras’ continuadas (Covid e Leste Europeu), a análise da empresa foi muito mais sensível e entraram outras variáveis na equação (todas considerando o sofrimento pelo qual já vêm passando as famílias mais carentes e a própria economia do país)”, disse Luna à Folha, por mensagem, na tarde desta segunda (14).
O presidente da Petrobras se refere à pandemia e à guerra entre Rússia e Ucrânia, causada pela invasão do primeiro país ao segundo.
A reportagem questionou se os reajustes foram tratados de alguma forma na reunião que ocorreu no Palácio do Planalto na terça (8), diante de apontamentos de defasagem no preço dos combustíveis, mesmo com os aumentos praticados em seguida. Participaram do encontro o presidente da Petrobras, ministros do governo e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
“Não trato com ninguém sobre reajuste de preços. Esse tema é tratado tecnicamente dentro da empresa”, disse o general.
A estatal ficou 57 dias sem mexer nos preços da gasolina e do diesel. O último reajuste havia ocorrido em 12 de janeiro. No caso do gás de cozinha, foi o primeiro reajuste após 152 dias.
A Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis) estima que os preços dos combustíveis seguem defasados, em razão principalmente das consequências da guerra entre Rússia e Ucrânia.
O presidente da Petrobras não quis comentar as críticas de Bolsonaro nem as perspectivas de permanência no cargo.
O chefe do Executivo vê no preço da gasolina, do diesel e do gás de cozinha um complicador para a sua campanha pela reeleição. As falas do presidente são calculadas nesse sentido e buscam dissociar sua responsabilidade do impacto desses preços na inflação.
Em suas críticas públicas, Bolsonaro manifestou incômodo com o fato de o anúncio dos reajustes ter ocorrido antes de o Congresso aprovar um projeto de lei que cortou tributos sobre o diesel. O texto zerou os impostos federais PIS e Cofins sobre o combustível e limitou a cobrança de ICMS.
O presidente tem o hábito de dizer que não interfere na Petrobras e que apenas dá palpites a Silva e Luna. “São sugestões apenas”, afirmou no sábado.
Questionado sobre a possibilidade de demitir o general, Bolsonaro afirmou: “Todo mundo tem possibilidade de ser trocado, exceto o vice-presidente e o presidente da República.”
Quando foi indicado ao cargo, em fevereiro de 2021, Silva e Luna negou a possibilidade de interferência de Bolsonaro na estatal. “Jamais haverá ingerência do presidente”, disse o general à Folha no dia 20 daquele mês.
Naquele momento, ainda sem a confirmação da indicação ao cargo de presidente pelo Conselho de Administração da Petrobras, Silva e Luna afirmou que “uma empresa está no meio da sociedade”, no sentido de que não pode ficar imune às demandas sociais. “O rei que mora no castelo, quando sai do castelo, ele vai andar na rua”, disse.
Os reajustes nos preços dos combustíveis entraram em vigor na sexta (11). Segundo o CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), foram os maiores aumentos desde a vigência da atual política de preços, iniciada em 2016.
Essa política é baseada nos valores praticados no mercado internacional, em que o PPI (preço de paridade de importação) é uma referência.
De olho na disputa eleitoral, Bolsonaro tem se queixado publicamente dessa política de preços. Ele afirmou que o lucro da Petrobras é “absurdo” e que o momento é “atípico” no mundo, em referência à guerra empreendida pela Rússia.
Somente em 2022, o preço da gasolina vendida pela Petrobras acumula alta de 24,5%. O do diesel, 35%.
Para o vice-presidente Hamilton Mourão, provável excluído da chapa de Bolsonaro na disputa pela reeleição, Silva e Luna é “resiliente” e “aguenta a pressão”.
“Intervenção no preço é algo que a gente sabe como começa e o término é sempre uma bagunça”, disse o vice, que também é general da reserva.
Folha
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