As delações dos 77 executivos e ex-funcionários da Odebrecht provocaram efeitos sobre o acordo da Camargo Corrêa com a Operação Lava Jato. Agora, a empreiteira precisará refazer a colaboração, que deve incidir sobre os contratos de obras municipais e estaduais de São Paulo, inicialmente investigados na Castelo de Areia.
Isso porque os executivos, no teor de suas delações, mencionaram casos de corrupção envolvendo a Camargo Corrêa. Tanto o PSDB quanto o PMDB devem voltar à mira da Lava Jato, nos indícios de corrupção desde 1996, e destas cerca de 12 obras paulistas,.
Apenas o atual presidente Michel Temer foi citado 21 vezes em planilhas apreendidas em 2009, em busca e apreensão da Castelo de Areia na casa de um dos executivos da empreiteira. Á época, Temer era deputado pelo PMDB, entre 1996 e 1998, e teria recebido mais de 340 mil dólares. O atual presidente nega a obtenção de recursos ilícitos.
Além de Temer, José Agripino Maia (DEM-RN), José Aníbal (PSBD) e Flexa Ribeiro (PSDB-PA) foram mencionados na investigação, além do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda. Mas, sobretudo, as irregularidades de contratos ocorreriam durante a gestão Serra-Kassab (2005-2008) na Prefeitura de São Paulo e de Geraldo Alckmin no governo estadual (2001-2006), quando foi sucessor de Mário Covas (PSDB), também citado em planilhas.
Pagamentos de propinas nos contratos e obras do Rodoanel, no túnel da Avenida Jornalista Roberto Marinho e na expansão do metrô, além de suspeitas em contratos da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa), de Campinas, foram algumas das apurações que integraram a Castelo de Areia.
Mas a Operação foi invalidada pela Justiça, em 2011, enterrando as suspeitas e provas de ilegalidades. Passados oito anos desde o início das investigações, o caso pode ser agora retomado com a Lava Jato, pelo chamado “recall da Camargo Corrêa”.
A medida foi provocada pela sequência de depoimentos da Odebrecht incriminando tais contratos e suspeitas envolvendo a Camargo Corrêa, que obrigaram os investigadores da Lava Jato a renegociarem os acordos dos executivos desta última empreiteira.
Entretanto, sob o receio de nova invalidação pela Justiça, uma vez que os primeiros depoimentos não cumpriram com a obrigatoriedade de informar todos os ilícitos investigados, os procuradores da República querem apostar em um aditamento, ou seja, um “acréscimo” no acordo para as novas revelações.
Para isso, será preciso incluir outros delatores, além dos já acordados com a Justiça. Por outro lado, para a empreiteira a opção pode ser prejudicial, com a possibilidade de um aumento nas multas e punições já negociadas com os investigadores. E, ainda assim, há o risco de a Justiça interpretar os casos como um ocultamento intencional dos executivos da Camargo Corrêa e anular os depoimentos da empresa.
Os investigadores também analisam estender o chamado aditamento, ou “recall”, às empreiteiras Andrade Gutierrez e UTC.
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