segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Que os protestos comecem ou seremos massacrados.

A Organização Mundial do Trabalho (OIT) divulgou na quinta-feira (12) um relatório que relaciona a marcha lenta da economia global e o desemprego com a possibilidade de aumento de protestos e manifestações violentas. No Brasil, o chamado Índice de Agitação Social, que mede a “saúde social” do país, avançou 5,5 pontos em 2016, enquanto no resto do mundo subiu apenas 0,7 ponto.
“Se o desemprego e a qualidade de vida piorarem, teremos sim uma maior possibilidade de manifestações”, afirmou o professor de Ciência Política da Universidade Veiga de Almeida (UVA), Guilherme Carvalhido. “Tradicionalmente, em várias partes do mundo, as manifestações estão atreladas a crises econômicas.”
O professor pondera que os grupos de esquerda - que tradicionalmente lideram movimentos de protestos - estão enfraquecidos com a recente fortalecimento da direita, mas reforça que o estopim para os possíveis protestos deste ano deve vir da classe média. “As manifestações podem ter mais presença e relevância se a classe média protestar. Se a crise afetar ainda mais o bolso do cidadão mais esclarecido e com mais voz na sociedade, com maiores possibilidades de organização política, podemos ver maiores protestos sim, como vimos durante o impeachment de Dilma Rousseff.”
Além do desemprego, o professor também aponta a crescente insatisfação do empresariado, que pode ficar totalmente desacreditado na economia caso o quadro não apresente melhora. “Com toda a insegurança política pela qual estamos passando, qual é a confiança que o empresário terá para investir na economia? Se os empresários não investem, não há criação de emprego, consequentemente a economia não melhora”, conta.
Para o professor, quando a economia do país vai bem, as pessoas se dispõem a ignorar os outros aspectos. “No governo Lula houve vários problemas, mas a economia ia bem, e as pessoas deixavam de lado as outras questões. Trump, por exemplo, foi eleito nos EUA com a promessa de trabalho. Sem esses elementos, floresce uma estrutura de insatisfação.”
No caso do Brasil, segundo Guilherme, há um agravante quando há piora na economia. “A condição econômica é fundamental para a questão social. Temos tantos problemas sociais que quando há uma melhora econômica, esse tipo de problema já é menos discutido pela maioria”. Para ele, uma taxa de emprego elevada só joga para debaixo do tapete problemáticas sociais que voltam à tona em períodos de crise.
Violência deve aumentar e governo pode sofrer com crise econômica
A insatisfação popular - que na visão do professor foi o motivo que fez a ex-presidente Dilma Rousseff perder sua base política e sofrer o processo de impeachment posteriormente - vai definir a sobrevivência ou não do governo Temer. 
“O governo atual, ao contrário do PT, é muito grande. O PDMB é muito forte. Mesmo assim, dependendo da insatisfação popular com o governo, você pode começar a ver pessoas abandonando o barco." Na opinião do professor da UVA, “o governo está cozinhando a situação para ficar até o final do mandato.”
Um último fator que o professor atrelou à crise econômica e um aumento na possibilidade de protestos é a questão da violência. ”No Brasil, lamentavelmente, há uma associação significativa entre pobreza e violência. Quando o estado não tem dinheiro, deixa de fazer os investimentos sociais necessários para que isso seja evitado. No Rio de Janeiro, por exemplo, isso está muito claro. A violência aumentou absurdamente no momento de crise.”

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