segunda-feira, 18 de maio de 2020

FATOS POLÍTICOS DAS DÉCADAS DE 60,70 E 80 (Edição III)

Apesar das décadas já passadas, com o tempo vem sua implacabilidade, mesmo com os momentos de angústia e de enorme ansiedade do presente, no qual somos submergidos ante as ininterruptas notícias de eventos negativos, divulgadas pelos mais diversificados meios modernos de comunicação do planeta, com ênfase no Coronavírus e suas consequências nefastas às famílias do mundo inteiro, especialmente àquelas que estão mais próximas de nós. Quanto a essas famílias, geograficamente falando, a todas nossos sentimentos de irmandade e solidariedade, nesta quadra difícil que ora atravessamos, requestante de paciência e criatividade, para fins adaptativos desta cruel e imposta realidade. 

Contudo, Graças a Deus, sobra-me espaço para retroceder no tempo, relembrar fatos e rememorar gestos e atitudes de pessoas, amigos e familiares, que marcaram, positivamente a trajetória humilde de minha vida pública. 

Assim, no limiar do mês de novembro de 1972, certo dia daquela primeira quinzena, por volta das 7:00h da noite, estávamos jantando eu, meus irmãos e a minha mãe, já que o meu pai achava-se ausente por motivo de doença, provavelmente. A mesa simples da casa dos meus pais, se não farta, todavia, cheia de paz, lotada de alegria, reinante de harmonia, e transbordante de espiritualidade. 

Ah! Sim! Falando em espiritualidade, principalmente em tempo de pandemia, lembrei-me do Pe. Márcio Prado, Vice-Reitor do Santuário da Misericórdia, quando se referia ao isolamento social, disse que apesar da ausência do povo, ele se sentia muito próximo. “Não presencialmente, mas pelo mistério do Corpo Místico de Cristo que é a Igreja, na qual Jesus é a cabeça, e nós, os membros.” Ele também acrescentou que, no exercício do sacerdócio, muitas vezes, via nas pessoas uma “sede” de felicidade, de bem-estar, a busca por uma espiritualidade, como uma forma de alívio, de conforto. 

Concordo com todas as palavras do Pe. Márcio, inclusive, em se falando de reciprocidade de sentimentos. 

A despeito de tudo, há muita gente que busca Deus no coração, que, por amor a Jesus Cristo, suporta os sofrimentos, como os que temos enfrentado neste tempo que nos é adverso. 

Eu lembraria, também, um dos versos da inesquecível canção do pequeno grande cantor Nelson Ned: “Mas tudo passa, tudo passará.” 

Maior que tudo isso é Deus! Oremos! 

Voltemos, então, àquela inesquecível noite de novembro de 1972, quando, inesperadamente, na casa dos meus pais, eu recebia a honrosa visita do Sr. Antônio Duarte Nunes, para dizer-me que queria votar comigo, e, por conseguinte, recomendar o meu nome às pessoas do círculo de amizade, também. Radiante de alegria, no caso, incontinenti, repassei-lhe vários cartões, constantes do meu número de vereador, ou melhor, de candidato, que, coincidentemente, era o mesmo do candidato a vereador de Natal Carlos Alberto, funcionário da Rádio Cabugi da Capital do RN. 

Deveras o gesto de solidariedade e a firmeza de atitude daquele ilustre cidadão, de fato, me deixaram feliz e, mais que tudo, serviram de vetor à condução de minha caminhada rumo ao Legislativo Santacruzense. 

Na medida em que o tempo foi passando, novas e espontâneas manifestações foram ocorrendo, com idêntica finalidade. De tal forma que me inundaram de entusiasmo. Decolou-se a autoestima, e, necessariamente, elevou-se a confiança, com similar determinação. 

Em verdade, nos poucos dias que antecederam a eleição, fui acometido de um sentimento íntimo de esperança concretizável, contudo, sem abrir mão da consciência das minhas limitações políticas, eleitorais e, sobretudo, financeiras. Tanto assim, que, no meu interior, algo ainda sinalizava a falta de alguma coisa em condição de complementar o meu projeto político em ação. 

Mas, conduzido pelo sentimento da Fé, que representa a crença no futuro, no trabalho, no propósito do alcance do objetivo perseguido, na perspectiva daquilo que antes me parecia premonição, de repente, surgiu, por parte da coordenação da campanha, a realização de um grandioso evento, para, em grande estilo, proceder-se o encerramento das atividades pertinentes à campanha em referenciação, na concomitância da eleição de prefeito, no caso, José Rodrigues da Rocha, e de vice-prefeito, José Amilton Pereira, cujo evento foi além da expectativa, em termos de grande número de pessoas e, também, de repercussão.

O comício, realizado no bairro do Paraíso, defronte à casa do Sr. Antônio Soares (Antônio Mangaieiro), foi estrelado de líderes políticos de renome, em nível de Município e Estado, com a presença marcante do ex-candidato a prefeito de Santa Cruz, José Aurélio Guedes, que, havia 4 (quatro) anos, não voltava à cidade, após a surpreendente derrota para o candidato, também a prefeito, José Bezerra Cavalcante (Zé de Balelê), na eleição de 1968, quando virou a eleição a seu favor, na última urna apurada, espetacularmente passando à frente de Zé Aurélio com pouco mais de 90 (noventa) votos de maioria. Na época, Balelê era o candidato da situação, esfera Municipal, e o Prefeito Clodoval Medeiros, que governou Santa Cruz de 1963 a 1968, perfazendo, portanto, 6 (seis) anos de mandato consecutivos. 

Então, com a realização daquele grandioso evento político-eleitoral, surgira a eventual oportunidade, inclusive, do meu nome no rol dos oradores daquela memorável noite de concentração. Eis que não foi nada fácil. Foi quase um milagre, diante das circunstâncias apresentadas por Iberê, tais como: a grande quantidade de convidados que vinha de Natal e, naturalmente, queria falar; o reduzido espaço no palanque; e, finalmente, o precedente que abriria junto aos demais candidatos, que, certamente, reclamariam uma oportunidade também. 

Não desisti, ponderei, até que ele (Iberê) me sugeriu: “Faça assim, não adiante nada pra ninguém até a hora de iniciar a grande movimentação. Procure ficar embaixo, no pé do palanque (carro de som), como se diz, dê um grito chamando pelo locutores”, que eram: Hudson Fonseca e Joãozinho de Tangará; ambos catedráticos naquela atividade profissional, à época. Assim o fiz. Eles me subiram pelos braços e, incontinenti, foram-me anunciando, e eu, de microfone nas mãos, fui logo me pronunciando. 

O tema do discurso foi “A Volta do Filho Pródigo”, que era, no caso, Zé Aurélio, voltando a Santa Cruz. Era como se fosse reaver a emoção piedosa e comovente do pai com o retorno do filho pródigo à casa paterna. 

Em resumo, fui feliz, Graças a Deus! Depois de cada aplauso, de cada aceno, de cada gesto de alegria, confirmei que valeram a pena tanto esforço, tanta dedicação. No final, os avalistas políticos locais concluíram, unanimemente, que a minha eleição teria sido definida no discurso daquela concentração. E assim aconteceu. Mais uma vez, Graças a Deus!

Obrigado! 

Até o próximo, se Deus Quiser! 

Dinamérico Augusto de Medeiros 
18 Maio de 2020.


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