sexta-feira, 17 de abril de 2020

INESQUECÍVEIS FATOS POLÍTICOS DAS DÉCADAS DE 60, 70 E 80 (Edição II)




Dinamérico discursando na tribuna da Câmara de Santa Cruz 













Antes de 1968, não recordo ter me envolvido formalmente na política de Santa Cruz. Após aquele ano, com Iberê à frente do processo político-partidário, de fato, passei a peregrinar pelas ruas da cidade, no trabalho de convencimento às pessoas, acentuadamente no meio estudantil, visando à formação do diretório do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição, na pregação de sua linha programática, cuja legenda lutava pela volta à democracia, à liberdade, e, também, evidentemente, ao Estado de Direito; tudo restringido pelo regime de opressão.

Enfrentando ameaças e colocando a própria vida em risco, protestávamos contra as agressões do regime autoritário, que fragilizou as instituições brasileiras, destacadamente o Congresso Nacional, que se limitava, apenas, a referendar os atos oriundos do Executivo Central.

Finalmente, em meio a tantos percalços, formamos o diretório do MDB de Santa Cruz, com um reduzido número de filiados, entre os quais, lembro-me de João Hélio de Oliveira e Domingos Alexandre da Silva, este último prematuramente falecido, o qual residia à Rua Caminha Fiúza; ambos funcionários da CHESF, escritório local.

Eis que, de repente, me vieram à lembrança os amigos Leôncio Fernandes de Carvalho e Mário Corsino Freire, que não faziam parte da comissão diretorial, mas que foram de uma utilidade sem precedentes na montagem da estrutura daquele partido de oposição, tanto no Município quanto noutras cidades da região. A eles, nossa eterna gratidão! 

Na verdade, exercer militância política de oposição, naquele período, não era tarefa de fácil execução. Exigia-se, no caso, do militante ativo, idealismo e coragem cívica, quiçá não tenha sido o meu caso, mas as circunstâncias me conduziram ao efetivo exercício de tão indescritível provação. 

Iberê e Marcílio Furtado
A determinação dos membros da Comissão Executiva do Partido somava-se à valiosa colaboração do vereador Rizomar Brandão de Azevedo, companheiro de primeira hora, e à bravura de outras pessoas que não estão mais entre nós - mas cujas presenças continuam vivas em nossos corações. São fortes lembranças que ficaram gravadas em nosso imaginário e que, juntos, compartilhamos ideias e filosofia partidária, em especial, respeitante à realidade político-administrativa da Santa Cruz de outrora (nossa terra-mãe, pátria nativa de Santa Rita da Cachoeira), na imprescindibilidade da proteção de Deus. Orientados pela jovem e inteligente liderança de Iberê, à época com seu bonito cabelame à vista, nutríamos, em uníssono, o legitimo propósito de combatermos a praticabilidade dos atos discricionários do autoritarismo, na plenitude de sua vil agressividade, e, também, a onda de denuncismo espraiada no âmbito regional.

Anexo a este texto, fotos da minha época de Ginásio Comercial, além de outros alunos e alunas dos Anos 60, na chamada “Escola do Padre”. Tem, ainda, outros fatos e fotos de pessoas e acontecimentos políticos das décadas de 60 e 70, respectivamente. 

Na linhagem do tempo, imagino a figura de Iberê, de calça curta (ainda não existia e/ou não se falava “bermuda”), discursando no centro do tradicional estuário democrático de Santa Cruz, na Praça Coronel Ezequiel, ao lado do Deputado Federal, de origem paraibana, Dr. Odilon Ribeiro Coutinho, eleito pelo RN, líder do MDB no estado. Escritor, historiador, intelectual conhecido nacionalmente, de comprovada sabedoria, cujas riqueza de oratória e coragem cívica empolgavam todos à sua volta, lavando a alma de nós circunjacentes, numa memorável noite de 1966, na praça referenciada. Fez-se realmente contemplado, com o seu exemplo de coragem e idealismo de homem público. 

Turma do Ginásio Comercial Anos 60
Igualmente, lembro-me do ex-Deputado JOSÉ MARCÍLIO DE MEDEIROS FURTADO, que, “se o espírito não me engana, e a memória não me falha” (dizem assim os mais experientes), no entremeio das décadas de 60 e 70, em eleição realizada na cidade paulista de Bauru, foi eleito 1º Secretário da União Nacional dos Estudantes (UNE), oportunidade que poucos brasileiros tiveram: secretariar a instituição mais importante dos universitários brasileiros. 

Depois desse giro transitório pelas estradas do passado, retorno às vias de Santa Cruz do Inharé, para dizer-lhes que, a princípio, o objetivo precípuo, em nível local, era estruturamos o MDB, para lançarmos candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador, pela legenda oposicionista, na esfera municipal.

Mas, em observância às necessidades político-administrativas de Santa Cruz, ditas prioritárias, deveras procedentes, optamos pelas candidaturas de José Rodrigues da Rocha e José Amilton Pereira, respectivamente prefeito e vice-prefeito, ambos da ARENA, dada, também, a legitimidade dos objetivos e princípios que nos uniam naquela direção. 

Nessas circunstâncias, o MDB registrou, apenas, candidatos a vereador. Foi, de tal forma, uma espécie de semente germinativa, que se plantou como eventual alternativa ao projeto político em previsão. 

Então, diante desse paradoxo, em termos de linha programática da oposição, decidimos pela melhor solução. O desfecho final do pleito foi a vitória do candidato a prefeito José Rodrigues da Roca (JRR), cujo fato, por si só, foi mais importante que o resultado expressivo da votação. Detalhes, nas edições subsequentes. 

Em resumo, honrado com os comentários, curtidas, compartilhamentos e aplausos, no tocante à minha publicação anterior, agradeço a todos(as) amigos(as), destaquem-se os de Santa Cruz, Carapicuíba/SP, Natal, Parnamirim, Carnaúba dos Dantas etc. Permitam-me, desta feita, citar a professora Diassis e família. Todos com gratidão! Nesse momento, contemplo-vos com a célebre oração de D. Hélder Câmara: “Se eu pudesse, carregaria todos em meus ombros. Como não posso, trago todos em meu coração.” 

Na verdade, estamos vivenciando uma conjuntura que nos é bastante adversa. Lembremos, agora, do grande pensador católico Alceu Amoroso Lima: “Quanto mais sombria é a estrada, mais precisamos de luz para a percorrermos. Quanto mais sombrios os horizontes dos nossos dias, mais precisamos de inteligência para os desvendar.” 

E, por que não, do Papa Francisco?!: “Não há sistemas que anulem, por completo, a abertura ao bem, à verdade e à beleza; nem a capacidade de reagir, que Deus continua a animar no mais fundo dos nossos corações.

Até o próximo, se Deus quiser! 
Um abraço!

Santa Cruz/RN, abril de 2020.
Dinamérico Augusto de Medeiros


Um comentário:

  1. Grande texto! Resgate de grande relevância de fatos políticos, narrados por quem vivenciou e atuou, como nenhum outro, no palco e nos bastidores de nossa Cena política desde os fins da década de 60 até nossos dias. Parabéns, meu irmão! Continue afiando as canetas, ou melhor, o teclado.Abraço!

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