Pelas que vieram e pelas que virão, eleição da primeira mulher negra muda retrato da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. Com 52.177 votos, Divaneide Basílio amplia a bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) no poder legislativo estadual, que reelegeu Isolda Dantas e Francisco do PT. Ela foi a deputada estadual mais votada na capital potiguar, onde conquistou 24.936 eleitores.
Para Divaneide, ter uma mulher negra na Assembleia Legislativa é mais que uma representatividade, marca a “abertura de caminhos para que possamos ocupar e ampliar todos os espaços sempre. A pauta de identidade não é secundária, na verdade é estruturante”.
A presença e importância das mulheres negras ocupando os espaços na política está expresso na composição dos parlamentos no país. Apesar de 27% da população feminina se declarar negra, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) contínua do IBGE, mulheres negras representam apenas 2% do Congresso Nacional e são menos de 1% na Câmara dos Deputados.
“A gente já ficou muito tempo na sub-representação em tudo que é lugar. Agora acho que ocupar esses espaços no parlamento é, para gente, também uma construção coletiva. A gente tem se organizado. Nós mulheres negras temos nos fortalecido em rede, para chegarmos juntas no parlamento e ampliar esse espaço em todos os lugares”, avalia Divaneide.
A marca histórica alcançada nas eleições de 2022 repete a conquista de 2019, quando Divaneide foi a primeira vereadora negra de origem popular a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de Natal, sendo reeleita a mulher mais votada da capital potiguar em 2020.
“A gente traz a história de Marielle, a memória de que não vamos deixar que nos tirem a vida, que nos tirem a possibilidade de representação, que somos realmente essa semente umas das outras e que nosso lugar é onde a gente quiser”, afirmou a deputada potiguar de origem periférica.
Este ano, Divaneide participou de uma campanha “Vote Nelas”, uma articulação nacional para estimular que mais mulheres pretas possam ocupar os espaços de poder. “A gente traz nossa identidade com pautas muito profundas de acesso a direitos. Eu acho que isso também é uma marca nossa”, disse Divaneide fazendo referência a pautas de estrutura, de saúde, de saneamento, de educação, de creche, que, segundo ela, “foi o que nos impediu de ocupar os espaços. A gente ficou jogada nas comunidades, nas periferias, sem infraestrutura, sem transporte”.
Biografia
Filha de trabalhadores rurais, nascida em Pedro Avelino, a vereadora Divaneide Basílio vive em Natal desde os quatro anos de idade.
Quando criança atuava nos movimentos culturais e comunitários do Conjunto Santa Catarina e da Igreja Católica na Paróquia Santa Maria Mãe, zona Norte de Natal, onde mora até hoje. Na juventude, integrou a Pastoral de Juventude do Meio Popular (PJMP) e a Rede de Jovens do Nordeste.
É mãe de Gabriela, Maria Rita (in memorian), José e Mateus.
No Legislativo natalense presidiu a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Proteção das Mulheres, dos Idosos, Trabalho e Minorias; foi vice-presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência e Mobilidade Reduzida e membro da Comissão de Planejamento Urbano, Meio Ambiente, Transportes, Habitação, Legislação Participativa e Assuntos Metropolitanos.
Foi a primeira pessoa da sua família a entrar em uma universidade pública federal e, em 2019, concluiu o Doutorado em Ciências Sociais na UFRN, pesquisando a juventude rural. Identifica-se com as causas da juventude, comunidade negra, mulheres, inclusão, movimentos sociais e de trabalhadores e o direito à cidade.
Ficou na suplência nas eleições municipais de 2016, quando obteve 2.236 votos. Em 2019 assumiu o mandato de vereadora na Câmara Municipal de Natal, tornando-se a primeira vereadora negra da capital potiguar.
Nas eleições de 2020 foi a mulher mais votada da cidade com 5966 votos e segundo lugar geral.
Agência Saiba Mais
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