Temer continua utilizando dois critérios básicos para escolher seus ministros, como já deixou explícito seu braço direito, Eliseu Padilha, sem um pingo de pudor: votos no Congresso e blindagem contra investigações de aliados.
Foi o que norteou a escolha de Carlos Velloso para o ministério da Justiça: a intenção é matar dois coelhos com uma cajadada só.
Por trás da respeitável fachada de ex-presidente do STF, apresentada como uma espécie de salvo conduto, Velloso é um advogado em exercício, cujo escritório defende Aécio Neves na Lava Jato.
Com uma canetada, Temer pretende promover o defensor de um investigado na Lava Jato a chefe do ministério ao qual se subordina a Polícia Federal, que toca as investigações da Lava Jato.
E que conhece de cor e salteado os meandros e os ministros do STF.
Não há como não suspeitar que Aécio vai receber, por intermédio de Velloso, informações privilegiadas acerca do andamento das investigações a seu respeito, seja da Polícia Federal, seja do Supremo. Tal como o escritório de Velloso do qual, é obvio, vai se desligar formalmente. Ou o escritório que vier a substituir o dele nessa causa – afinal, manter as aparências faz parte do jogo.
O conflito de interesses é evidente, menos para Aécio, que o indicou, para Temer e Padilha que aprovaram a indicação e para Velloso, que aceitou.
Do ponto de vista político é um conchavo perfeito tanto para o presidente do PMDB quanto para o presidente do PSDB: consumada a nomeação, Aécio não terá como deixar de apoiar qualquer proposta do Planalto, por mais lunática que seja.
Para os deputados e senadores tucanos significa a obrigação de se alinhar com Aécio e com Temer mesmo nas propostas mais anti-populares, como a da Previdência, o que poderá redundar em fracasso eleitoral nas próximas eleições.
Do ponto de vista ético é mais um degrau escada abaixo no processo de destruição moral do Brasil.
Afundar o pais e o PSDB são preocupações que passam ao largo dos conchavos de Temer e de Aécio.
Falta combinar com os eleitores.
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