Antes do início da sessão a vereadora Mariana Conti, do PSOL, chamou um espaço para discussão dos casos de feminicídio que aconteceram na cidade, citando inclusive as duas mulheres mortas na comunidade Menino Chorão em Campinas, na mesma data que Isamara e que não tiveram cobertura da mídia. Estiverem presentes o movimento de mulheres Nenhuma a Menos, diversos outros coletivos de mulheres e grupos políticos atuantes na cidade. Essa ação ficou marcada pela leitura do manifesto do Nenhuma a Menos, que foi protagonista ao organizar o grande ato que marcou a cidade de Campinas para gritar um basta a morte de mulheres pelo machismo.
É vergonhoso que nesse primeiro espaço, mesmo tendo sido amplamente convidados, além da Mariana Conti, estavam presentes apenas 3 vereadores, dos 33 eleitos. Esse fato mostra que a Câmara dos vereadores de Campinas - a mesma que aplaudiu Donald Trump, atual presidente dos EUA e lamentável exemplo do que é o machismo e a misoginia - não está interessada em reconhecer os crimes perante a vida das mulheres. Muito pelo contrário, essa Câmara não esconde sua intenção de vetar o debate de gênero nas escolas, como já tentou fazer em 2015 com a proposta de emenda constitucional do machista Campos Filho, do DEM, fingindo que nada disso ocorre, que a violência de gênero não existe e não deve ser discutida. Enquanto isso, as mulheres seguem morrendo e o silêncio daquela Casa escancara o quanto os vereadores e o Prefeito Jonas Donizetti, que se quer tocou no assunto, têm suas mãos sujas de sangue.
Ao abrir a sessão Jonas se calou sobre o feminicídio, mesmo com o plenário exigindo uma posição contra a absurda violência de gênero que segue ocorrendo em Campinas. O prefeito estava mais preocupado em reafirmar a sua ligação com as empresas que garantem o "desenvolvimento" da cidade - desenvolvimento esse que de nada interessa para a população, desenvolvimento esse que fecha a principal unidade de saúde do centro - a UPA centro, que aumenta a passagem do ônibus fazendo com que seja quase impossível se locomover para ir trabalhar, estudar ou passear pela cidade. É com seu lucro e das empresas que são suas parceiras que ele se preocupa, não com as mulheres que seguem morrendo pelas mãos de seus maridos, não com a juventude negra encarcerada que é vítima de um genocídio cotidiano pelas mãos da polícia e do sistema carcerário, não com os milhares de lgbts que a violência de gênero mata todo dia.
Toda a sessão seguiu marcada por diversos comentários extremamente preconceituosos por parte dos vereadores, como a peróla: "minha neta ainda brinca de boneca. Menino é menino e Menina é Menina" do vereador Edison Ribeiro, do PSL - comentários estes que não passaram batido no meio das lutadoras e lutadores que se ocuparam aquele plenário e que demonstraram ali a força com que tomaram as ruas no dia 05 de janeiro, para continuar lutando para que mais nenhuma mulher seja morta.
A professora Grazielli Rodrigues militante do Grupo de Mulheres Pão e Rosas em depoimento ao Esquerda Diário declarou: "Que apesar de todo o descaso e preconceito disseminado pela maioria dos vereadores e do silêncio do prefeito diante da violência que tira a vida das mulheres todos os dias, nós não nos intimidaremos, como fez Diana Assunção que denunciou as perseguições que vem sofrendo por ter denunciado as políticas higienistas de Dória em SP. E dessa maneira seguiremos ocupando as ruas, como fizemos junto a mais de mil mulheres em protesto contra a morte de Isamara."
Essa primeira sessão escancara o caráter de luta na cidade de Campinas para 2017, com as mulheres trabalhadoras e negras, lgbts, coletivos e grupos políticos mostrando sua garra, fazendo suas reivindicações e denúncias à essa Câmara completamente reacionária que ignora a urgência do debate de gênero. Ocupando o plenário pra gritar mais uma vez que não aceitaremos nenhuma a menos! Nenhuma mulher a menos, nenhuma vida lgbt a menos!
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