O presidente Jair Bolsonaro visita nesta terça-feira o centro de memória do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, museu público israelense que lembra as vítimas e aqueles que combateram o genocídio de seis milhões de judeus pelos nazistas.
Segundo o programa da visita, Bolsonaro visitará a exposição Flashes of Memory – Fotografia durante o Holocausto. Ele também depositará flores em homenagem às vítimas do nazismo e assinará o livro de honra do memorial.
Além do museu, o complexo Yad Vashem abriga um importante centro de pesquisas sobre o período nazista.
Em seu site, a instituição traz um breve histórico sobre a ascensão do partido nazista na Alemanha entre guerras.
Ao abordar a situação alemã após o Tratado de Versailles, que selou a paz entre as principais potências europeias após a Primeira Guerra, o museu explica que havia um clima de frustração que, “junto a intransigente resistência e alertas sobre a crescente ameaça do Comunismo, criou solo fértil para o crescimento de grupos radicais de direita na Alemanha, gerando entidades como o Partido Nazista”.
A classificação do Partido Nazista como parte da direita vai de encontro com opiniões expressadas pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
Em um post recente em seu blog, Metapolítica 17, Araújo escreveu que “a esquerda fica apavorada cada vez que ressurge o debate sobre a possibilidade de classificar o nazismo como movimento de esquerda”, explicando que, em um sua opinião, o nazismo foi um movimento de esquerda.
“Livres dessa inibição, podemos facilmente notar que o nazismo tinha traços fundamentais que recomendam classificá-lo na esquerda do espectro político”, escreveu o chanceler, que já havia expresso opiniões semelhantes em outras ocasiões.
Araújo fará parte da comitiva que acompanhará Bolsonaro na visita ao memorial.
A discussão sobre se o movimento nazista alemão teria as mesmas origens do marxismo ganhou fôlego com a polarização do debate político no Brasil.
Mas historiadores entrevistados pela BBC Brasil dizem que há uma “confusão de conceitos” que alimenta o debate e explicam que o movimento se apresentava como uma “terceira via”.
“Tanto o nazismo alemão quanto o fascismo italiano surgem após a Primeira Guerra Mundial, contra o socialismo marxista – que tinha sido vitorioso na Rússia na revolução de outubro de 1917 –, mas também contra o capitalismo liberal que existia na época. É por isso que existe essa confusão”, afirma Denise Rollemberg, professora de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF).
“Não era que o nazismo fosse à esquerda, mas tinha um ponto de vista crítico em relação ao capitalismo que era comum à crítica que o socialismo marxista fazia também. O que o nazismo falava é que eles queriam fazer um tipo de socialismo, mas que fosse nacionalista, para a Alemanha. Sem a perspectiva de unir revoluções no mundo inteiro, que o marxismo tinha.”
A ideia de uma “revolução social para a Alemanha” deu origem ao Partido Nacional-Socialista alemão, em 1919. O “socialista” no nome é um dos principais argumentos usados nos debates de internet que falam no nazismo como um movimento de esquerda, mas historiadores discordam.
“Me parece que isso é uma grande ignorância da História e de como as coisas aconteceram”, disse à BBC Brasil Izidoro Blikstein, professor de Linguística e Semiótica da USP e especialista em análise do discurso nazista e totalitário.
“O que é fundamental aí é o termo ‘nacional’, não o termo ‘socialista’. Essa é a linha de força fundamental do nazismo – a defesa daquilo que é nacional e ‘próprio dos alemães’. Aí entra a chamada teoria do arianismo”, explica.
Em setembro do ano passado, em entrevista ao jornal O Globo, o embaixador alemão no Brasil, Georg Witschel, afirmou ser “uma besteira completa” dizer que o nazismo foi um movimento político de esquerda. O diplomata afirmou que há amplo consenso entre historiadores alemães e mundiais de que Hitler liderava uma corrente política de direita.
As declarações de Witschel foram dadas depois que a divulgação de um vídeo explicativo sobre o nazismo, publicado pela embaixada embaixada da Alemanha no Brasil e pelo consulado alemão no Recife (PE), provocou forte reação nas redes sociais no Brasil. Muito brasileiro contestou a representação alemã no país, questionando se o Holocausto realmente existiu e afirmando que o nazismo foi um movimento de esquerda.
Com a legenda “Os alemães não escondem o seu passado. Saiba como se ensina história na Alemanha”, o vídeo tem pouco mais de um minuto de duração. A ideia era ressaltar a importância de não se esquecer os crimes do nazismo entre 1933 e 1945, período em que o Holocausto levou à morte de cerca de 6 milhões de judeus e de 5 milhões de pessoas de outros grupos, como homossexuais e ciganos.
Da BBC
Nenhum comentário:
Postar um comentário