Não subestimem o corporativismo
Não resta dúvida de que a direita brasileira busca desesperadamente uma alternativa ao extremismo ideológico de Bolsonaro, mas não será fácil resolver essa equação.
O fiasco das prévias do PSDB só realça uma dificuldade de fundo da desigual sociedade brasileira: o corporativismo e a necessidade de atender a interesses de grupos antes que isso represente algum progresso para a população.
Não há bons exemplos quando eles simplesmente não existem.
As instituições estão contaminadas pelo vírus do interesse próprio e isso tira delas a isenção para agir sobre as pautas realmente reformistas.
O resultado é que os bolsões ideológicos em luta usam essas mesmas instituições para manter viva a polarização política.
Tanto à esquerda quanto à direita há uma desconfiança generalizada contra o Congresso e o Poder Judiciário que se justificam.
A sociedade percebe perfeitamente quem são os privilegiados, quem sempre sai no lucro e quem sempre sai no prejuízo. Ninguém é tolo, embora pareça. O Estado brasileiro, que deveria ser a solução para a desigualdade, é o problema.
Governantes entraram e saíram depois da redemocratização lutando com seus opositores para conseguir andar cinco passos para frente e três para trás. Esta seria mais ou menos a proporção de avanços e recuos.
E o que os poderosos fazem além de lutar por suas próprias corporações ou grupos políticos?
Não se muda uma realidade dessas a menos que um fenômeno superior se imponha e é o que está acontecendo agora com Jair Bolsonaro, esse ponto fora da curva.
A ideia de um recuo não de cinco e sim de 10 passos atrás representada pelo atual presidente, requalificou a luta política no Brasil.
Parte dos parlamentares do PSDB, que deveriam se opor ao governo reacionário na qualidade de representantes da social-democracia, são beneficiários da distribuição de emendas e benesses do governo.
Entre a corporação e a população brasileira, a escolha é pela corporação. Sempre foi assim. Bolsonaro continua no seu papel, abrindo generosas concessões ao Centrão, mas confiando no seu bando de apaixonados (algo em torno de 22%) para viabilizar o segundo turno das eleições para ele e os demais candidatos da franquia.
Do outro lado, está uma esquerda cuja única saída é o ex-presidente Lula, que tentará apagar o fracasso do governo Dilma e se eleger erguendo pontes em direção ao centro, a despeito de parte de seu partido.
Desde que a extrema direita voltou ao poder no Brasil e ameaça outros países do continente, como o Chile, que mais sofreu com a ditadura militar, a questão é saber como será jogar numa mesa com cartas viciadas no corporativismo.
Auxílio Bolsa
Essa história de que o governo “poderá ser obrigado” a reajustar todo ano pela inflação o valor dos benefícios do Auxílio Brasil, o novo programa social do governo que substitui o Bolsa Família, é pura conversa fiada. O reajuste automático do benefício pela inflação, que já está em dois dígitos, é do interesse eleitoral do presidente Bolsonaro, que usará esse benefício para se reeleger. E o relator, deputado Marcelo Aro (PP-MG), sabe disso.
Esmolinha
Transferência de renda e sistema de cotas para acesso ao ensino superior são programas importantes para um país com as desigualdades sociais do Brasil. Por isso mesmo, esses programas foram criados no governo FHC, unificados no período Lula, e foram responsáveis por tirar milhões de pessoas da absoluta pobreza e do acesso ao ensino superior. Mas essa política social foi abreviada para ser reinventada sem nenhuma necessidade (a não ser a política) com o nome de auxílio, uma ajudinha, um ajutório. Nada mais a ver com Bolsa. Até nisso o brasileiro pobre é colocado em seu lugar.
Sequela da covid
A cada dia, pessoas em todo o mundo que tiveram covid descobrem uma nova sequela da doença. Esta semana aconteceu com o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, que se perdeu durante um discurso e foi obrigado a apelar para uma anedota sobre sua visita recente ao parque temático de Peppa Pig. Tudo aconteceu durante uma visita à Confederação da Indústria Britânica em Port of Tyne, no norte da Inglaterra. No final, ele apelou mesmo para a sinceridade: “Dane-se” (…)”Me perdoem”.
Sempre um culpado
Enquanto entope o governo de militares em qualquer cargo que pode, o presidente Bolsonaro insiste no discurso liberal das privatizações, que simplesmente não existe. Correios e Eletrobras viraram então os “cases” de sucesso do governo, mas ainda estão enrascados no Congresso Nacional. A isso o presidente se defende com o sabido argumento de que privatizar não consiste apenas em “botar na prateleira” e anunciar a compradores. Portanto, a culpa é sempre de alguém – no caso, o Congresso.
Quem sabe no próximo
Desta vez o presidente Bolsonaro não conseguiu deixar a prova do Enem à cara do governo, mas para 2022, quem sabe. O estoque de questões está baixo, precisará ser renovado e, quem sabe de novo, não será uma boa oportunidade – a título de reforço – não pôr para trabalhar militares da reserva no lugar de gente notoriamente gabaritada para a função. Não tem sido assim neste governo?
Agora RN
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