terça-feira, 10 de abril de 2018

BATOM NA CUECA: Doleiro diz que papéis ligam grupo de Temer a propina da Odebrecht

O doleiro Lúcio Funaro entregou aos investigadores da Operação Lava-Jato um conjunto inédito de documentos que reconstituiriam o caminho percorrido por parte da propina de R$ 10 milhões paga pela Odebrecht ao PMDB, na campanha de 2014. A quantia, segundo os investigadores da Lava-Jato, teria sido dividida pelo grupo político do presidente Michel Temer. O caso remonta ao jantar no Palácio do Jaburu, narrado em detalhes na delação da empreiteira, em que o então presidente da companhia, Marcelo Odebrecht, afirma ter recebido o pedido de “contribuição” ao partido do então vice-presidente e candidato à reeleição na chapa de Dilma Rousseff. Os papéis remetidos por Funaro aos investigadores serão usados para fundamentar o inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar Temer, os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e de Minas e Energia, Moreira Franco.

Cumprindo prisão domiciliar em uma fazenda no interior de São Paulo desde dezembro de 2017, o doleiro diz aos investigadores, em ofício enviado à Polícia Federal no dia 14 de março, que passou dias vasculhando os seus registros de pagamento de propina para localizar as evidências. Funaro encontrou um conjunto de planilhas que ele afirma reconstituir a “entrada de dinheiro em espécie” entre os dias 22, 23, 24 e 25 de julho de 2014. A soma das “entradas” durante esses quatro dias totaliza R$ 1 milhão. É justamente a quantia que o doleiro afirmou, em delação, ter ido buscar no escritório do advogado José Yunes, amigo pessoal de Temer. Além da sua contabilidade pessoal, Funaro encontrou outro documento que confirmaria a entrega da propina ao ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima, em Salvador. Toda a movimentação registrada por Funaro ocorreu um mês depois do jantar no Jaburu.

Na delação, Funaro afirma que recebeu uma ligação de Geddel, com um pedido para que “retirasse a remessa de R$ 1 milhão” no escritório de Yunes: “Geddel informou que precisava que os valores fossem enviados para Salvador. Geddel lhe informou que o dinheiro que iria retirar com José Yunes era referente a uma doação via caixa dois, da Odebrecht, acertada juntamente com Eliseu Padilha e Michel Temer”, contou o doleiro.

Os documentos de Funaro foram repassados aos investigadores 12 dias depois de o próprio presidente Temer ter sido incluído pelo ministro Edson Fachin no rol de investigados do inquérito. O procedimento sigiloso já investigava os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, apontados como beneficiários da propina por seis delatores da Odebrecht. O pedido de inclusão de Temer entre os investigados foi feito pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge.

De acordo com a procuradora, os delatores da Odebrecht apontaram, “em declarações e provas documentais”, que Temer, Padilha e Moreira teriam recebido recursos ilícitos da empreiteira “em contrapartida ao atendimento de interesse deste grupo pela Secretaria de Aviação Civil”. Os documentos de Funaro reforçam as declarações dos delatores.

Dodge lembrou que Padilha seria encarregado de tratar com agentes privados e de centralizar as arrecadações financeiras da Odebrecht. “Ele teria deixado claro que falava em nome do vice-presidente e que utilizaria o peso político dele para obter êxito em suas solicitações”, escreveu a chefe do Ministério Público. Fachin autorizou a inclusão de Temer por entender que os crimes relatados na investigação tratam de fato ocorrido durante o mandato, o que autorizaria a investigação do presidente.

VALORES “ERAM DE MICHEL TEMER”

Ainda na delação, Funaro afirma que os valores repassados pela Odebrecht “eram de Michel Temer” e que o então vice-presidente enviou “uma parte do dinheiro arrecadado” para Geddel.

“Dirigentes da Odebrecht utilizaram o doleiro Alvaro José Novis para fazer com que os valores destinados a Temer chegassem nas mãos de Yunes”, relatou Funaro.

Ao reconstituir a operação durante os depoimentos na Procuradoria-Geral da República, Funaro disse ter ligado para Yunes e combinado a retirada da propina no escritório do amigo pessoal de Temer. O doleiro disse que foi ao escritório acompanhado de um segurança e foi recebido pelo próprio Yunes em uma sala onde havia um documento com diplomação do amigo de Temer como deputado federal e um diploma de bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo (USP). Já em seu escritório, Funaro pediu a um funcionário para que fosse até Salvador entregar a quantia a Geddel.

Em sua defesa, Yunes acusou Eliseu Padilha de tê-lo feito de “mula”, pois teria sido o ministro o responsável por repassar o endereço do escritório do advogado para a Odebrecht. A empreiteira registrou o pagamento dos R$ 10 milhões ao grupo de Temer no Departamento de Operações Estruturadas.

Ao GLOBO, a assessoria de Temer afirmou que “todas as doações recebidas pelo PMDB foram legais e declaradas à Justiça Eleitoral, e que o próprio Marcelo Odebrecht disse que em nenhum momento tratou de dinheiro com o presidente”. O advogado do ministro Eliseu Padilha, o criminalista Daniel Gerber, disse que, “em respeito ao Judiciário, o ministro só se manifesta no processo”. O defensor do ministro Moreira Franco, Antonio Pitombo, também negou envolvimento do peemedebista no caso: “Conforme já foi reiterado diversas vezes, o ministro Moreira Franco não tem qualquer vínculo com esses fatos”.

O GLOBO



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