quinta-feira, 5 de abril de 2018

MEC retira matéria de Filosofia do ensino médio

O argumento central dos gestores do MEC reside no baixo nível obtido pelos estudantes brasileiros nas avaliações, especialmente a realizada pela OCDE, o PISA. Sem querer entrar no mérito da legitimidade dessa avaliação, a literatura especializada aponta que o processo educativo não pode ter como núcleo a avaliação, pelo contrário, entendendo a educação como processo de aprendizagem, a avaliação é a última etapa, servindo como uma espécie de retroalimentadora deste processo. É um equívoco conceitual apontar a avaliação como premissa de toda as etapas da educação.

Dito isto, observa-se que a BNCC reafirmou elementos contidos na reforma do ensino médio. O primeiro deles diz respeito à retirada da Filosofia como disciplina e como disciplina obrigatória. Agora ela aparece diluída na área Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, a exemplo do que ocorrerá com as disciplinas de Geografia, História e Sociologia.

Em outros termos, isto significa um retrocesso substancial. Menos de 10 anos depois do seu retorno obrigatório ao ensino médio, o ensino da Filosofia volta a exercer um papel coadjuvante no currículo, visto que ela retorna ao patamar estabelecido pela LDB aprovada em 1996, que afirmava que o estudantes precisavam ter domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania. 

Outro aspecto a considerar diz respeito ao fato de o ensino médio aprofundar e ampliar os conteúdos disciplinares desenvolvidos no ensino fundamental. Ora, como realizar estes objetivos se não existe ensino da Filosofia no fundamental? Isto é preocupante, ainda mais se considerarmos que os conteúdos relacionados à ética e ao denominado projeto de vida no ensino fundamental estão contemplados no Ensino religioso.

A BNCC/Ensino médio estabelece seis competências para a área Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Observa-se que a diluição do ensino da Filosofia permitirá trabalhar conteúdos relacionados a Ética e Filosofia Política e a Epistemologia, negligenciando a Lógica, a Estética e a Metafísica. Com menos conteúdos a lecionar, o risco de termos menos presença da Filosofia no ensino médio aumenta.

Por falar em competências, a BNCC retrocede conceitualmente a uma discussão ocorrida no final do século passado e início desse. Os termos habilidades e competências, que marcam o documento, não garantem o direito de aprendizagem aos estudantes. Pelo contrário, corre-se o risco dele ser treinado para responder uma avaliação, mas não saber o motivo da resposta, algo que é garantido pela aprendizagem.

Por fim, a reforma do ensino médio estabelece que Filosofia, Sociologia, Artes e Educação Física devem aparecer na BNCC/Ensino médio como estudos e práticas. Em que pese a crítica que feita a esta noção, confesso que não identifiquei a efetivação desta medida na versão final da BNCC para o ensino médio. Talvez os dirigentes do MEC, na expectativa de retirar a Filosofia de vez da sala de aula, tenham esquecido deste pequeno detalhe.

Vermelho



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