Há presidentes da República que têm dificuldades de lidar com as crises. Há outros que têm o talento para administrar as crises. Jair Bolsonaro revela-se um tipo sui generis de presidente.
Ele é a própria crise. Sob o capitão, a Presidência transformou-se num outro nome para encrenca. O Planalto produz crises com a mesma naturalidade com que a bananeira dá bananas.
Em meio ao estilhaçamento de suas relações com Rodrigo Maia, presidente da Câmara, Bolsonaro reuniu-se com seus principais conselheiros civis e militares. Delegou a Onix Lorenzoni, chefe da Casa Civil, a tarefa de pacificar as relações com o Congresso.
Numa única decisão, Bolsonaro cometeu dois equívocos. Errou ao imaginar que um presidente pode terceirizar a resolução de uma crise. Errou também ao supor que Onyx, parte do problema da articulação política, pode virar solução.
Um presidente deve identificar os buracos e desviar o governo deles. Com o auxílio dos filhos, Bolsonaro dedica-se a cavar os buracos nos quais sua administração cai. Iniciada uma crise, o presidente deve preservar os aliados e estancar a sangria.
Carlos Bolsonaro, o filho do rei, comprou briga com o aliado Maia. E o capitão comportou-se como se quisesse ver o sangue de Maia escorrendo nas redes sociais mantidas por suas milícias virtuais.
Bolsonaro faria um favor a si mesmo se desperdiçasse cinco minutos do seu tempo para dimensionar o custo dessa penúltima crise em que se meteu. O eventual naufrágio da reforma da Previdência influenciará mortalmente os rumos do seu governo.
O presidente repete o bordão segundo o qual não deseja incorrer na “velha política”. Faz bem. Mas precisaria demonstrar que sua “nova política” não é o pão dormido que aparenta ser. Por ora, o que deu para perceber é que Bolsonaro sabe criar crises, mas não sabe como desfazê-las.
Do UOL
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