O desvendamento do assassinato de Marielle Franco e a prisão dos mandantes, no domingo de ontem, é uma vitória inconteste do governo Lula. Nos primeiros dias de gestão, o presidente e o então ministro da Justiça, Flávio Dino, tomaram a decisão política de esclarecer o crime cuja impunidade, há cinco anos, depunha contra a efetividade da democracia brasileira.
A decisão tomada naquele janeiro conturbado pela tentativa de golpe, de federalizar parcialmente as investigações, permitiu que em pouco mais de um ano de trabalho sério, a Polícia Federal, ombreada com o Ministério Público estadual, conseguisse desmontar a trama do crime e de sua frustrada impunidade.
O esclarecimento é resultado do trabalho conjunto e independente das instituições de polícia e justiça contra o crime organizado mas não teria acontecido sem a decisão política do governo federal, em tudo oposta à do governo Bolsonaro, que nunca se empenhou no esclarecimento do crime. Muito pelo contrário.
A população, que tanto se ressente de respostas contra a violência, recebe com este desfecho um sinal de compromisso do Estado com o enfrentamento do crime organizado. Ninguém reclamará, desta vez, da fala do ministro Lewandowski sobre o desenlace de ontem, em que afirmou: “o crime organizado não terá mais sucesso em nosso país”.
O mais chocante em tudo foi a revelação de que a trama da impunidade foi urdida pelo então chefe da polícia civil, o delegado Rivaldo Barbosa, que está preso com os irmãos Brazão em Brasília. Ele orientou a execução do crime, ele embarreirou as investigações e foi de uma hipocrisia abjeta na relação com a família de Marielle. Logo depois do crime, fez compromisso de honra com o esclarecimento da execução e convenceu a família a não concordar com a federalização das investigações.
O esclarecimento do assassinato de Marielle e de seu motorista Anderson mostrou claramente ao Brasil como funciona a aliança do mal que vem desgraçando o Rio de Janeiro: a aliança entre o crime organizado, setores da política e da própria polícia. Que as autoridades aproveitem esta oportunidade para limpar o Rio desta mazela.
Ainda há perguntas que cobram respostas. É intrigante, por exemplo, o fato de Barbosa ter sido nomeado chefe da polícia civil na véspera do crime. Antes, ele chefiava a delegacia de homicídios. Naquele momento, o general Braga Netto chefiava a intervenção federal na segurança do Rio. Ontem ele divulgou nota afirmando que a escolha foi do Secretário de Segurança, general Richard Nunes, que ainda não se pronunciou. Como Barbosa era um enganador, pode ter sido nomeado de boa fé pelos militares, mas eles terão que se explicar sobre isso.
Que venham mais delações, mostrando conexões “para cima” e “para o lado” da grande teia criminosa que ceifou a vida de Marielle e infelicita o Rio.
Sobre Barbosa, o relatório do ministro Alexandre de Moraes nos deixa perceber que mais gente já sabia do envolvimento dele. Em 2019, segundo o relatório, uma procuradora foi ouvir o miliciano Orlando Curicica no presídio federal de Mossoró. Para desviar o foco das investigações, um certo PM Ferreirinha, que depois se soube ser ligado aos Brazão, acusou Curicica de ter sido o executor. Negando a autoria, ele disse à procuradora: “A senhora sabe que terá de mandar prender o chefe da polícia?”. Impressionante que não lhe tenham dado qualquer crédito.
Da mesma forma, não teve êxito a ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge, quando pediu ao STJ a federalização do caso, levantando suspeitas sobre a condução do caso pela Polícia Civil do Rio. Demorou mas aconteceu. O que faltava era vontade política de esclarecer crime tão bárbaro.
Brasil 247
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