Índio, cigano, enfermeira sensual, Iemanjá, nega maluca, árabe e homem vestido de mulher estão na lista de fantasias que devem ser banidas pelos foliões, segundo o site "Catraca Livre", que estabelece "as sete fantasias que não devem ser usadas no Carnaval" por serem preconceituosas ou machistas. O politicamente correto disputa espaço com a irreverência dos blocos, e os debates esquentaram.
A artista indígena Katú Mirim deu início, também na web, à campanha #ÍndioNãoéÉFantasia, em que defende que o uso desses trajes é, sim, um ato ofensivo.
"Indígenas existem, resistem e temos cultura. Fantasia de índio é racismo porque discrimina nossa raça, fortalece o estereótipo do índio folclore e a hipersexualização da mulher indígena", diz Katú. O vídeo já foi visualizado quase dois milhões de vezes. Nas redes sociais, a artista vem sendo atacada por sua posição — "98% dos comentários são ruins", revela. "As pessoas não conhecem a cultura raiz desse país, ainda têm um "índio folclore" na cabeça. Dizem amar nossa cultura, mas massacram o indígena que pede respeito".
A posição da artista, entretanto, não é consenso entre as lideranças indígenas. Para Afonso Apurinã, presidente da Associação Centro de Referência da Cultura dos Povos Indígenas Aldeia Maracanã, "é importante preservar a liberdade de expressão". "Não vejo nada demais desde que haja respeito, sem tom de deboche", afirma Apurinã.
Mio Vacite, presidente-fundador da União Cigana do Brasil, tem visão semelhante sobre as fantasias que remetem ao grupo étnico originário da Romênia, vistas como "motivo de orgulho": "É preciso ter cuidado. Por exemplo: havia um programa humorístico que colocava um cigano como trambiqueiro, naquele estereótipo clássico. Reclamamos, e retiraram o personagem. Essa questão da fantasia, porém, não me incomoda. Ao contrário, podemos tomar como uma homenagem, e acho que pode até ajudar a diminuir o preconceito. Desde que, claro, não seja feito desse modo pejorativo".
Entre estudiosos do Carnaval, o teor das fantasias também não gera tanta controvérsia. "Claro que o que agride não é adequado, mas não vejo isso nos casos citados. É uma brincadeira, que pode abrir para o diálogo", acredita o professor Felipe Ferreira, do Instituto de Artes da Uerj e coordenador do Centro de Referência do Carnaval da universidade.
"Só consigo ver a celebração dos povos, o respeito. Não vejo qualquer ridicularização", pondera o carnavalesco Milton Cunha.
(*Com informações do Extra)
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