Quem dá cabo dessa tarefa é uma agência publicitária da cidade de São Paulo, a Isobar Brasil, que antigamente atuava sob o nome de Agência Click. Este tipo de serviço é conhecido como "big data" e tem como objetivo coletar, analisar e processar grandes volumes de dados registrados na rede. A empresa teria como seu principal objetivo vasculhar a internet em busca de focos de manifestações, pra identificar quem são os principais "influenciadores" e quais demandas políticas estão sendo exigidas. Depois, essas informações iriam para o Planalto e órgãos públicos, além de enviadas diretamente a agentes de segurança.
Esse tipo de serviço é o mesmo impulsionado pela consultoria americana Geofeedia, que foi acusada de colaborar com a polícia durante a repressão do movimento Black Lives Matter em outubro de 2016, e foi proibido pelos termos de uso do site Facebook desde então. Inclusive, no Brasil, desde o Marco Civil da Internet de 2014, é proibido o uso por terceiros de qualquer postagem, informação publicada ou dado pessoal sem o "consentimento livre, expresso e informado" do autor ou responsável.
Além de achar uma ótima ideia atropelar esses direitos, o governo também acha que é um ótimo destino para o dinheiro público. Em 2015, a Isobar Brasil recebeu R$ 13,8 milhões do governo pela prestação de serviços denominados como "comunicação digital". De acordo com o contrato assinado com a Secretaria de Comunicação, uma parcela de R$ 113 mil desse total seria destinada ao "monitoramento on-line". Já em 2016, o ano do golpe de Temer, a empresa teria recebido a quantia de R$ 17,6 milhões, o 5º maior pagamento já realizado pelo órgão público.
Tanto a empresa quanto o próprio governo e seus cães farejadores se escondem detrás de um discurso de que, se algo já está publicado em uma rede social, é aberto aos olhos de qualquer um e, portanto, dar atenção a isso não seria uma atitude criminosa. Inclusive dizem que pode ser um método importante para pensar novas maneiras de atender às demandas da população.
Oras, mas existe uma grande diferença entre dar atenção para as grandes exigências da rede e o monitoramento privado, organizado, vinculado aos órgãos repressores do Estado com uma atenção específica voltada para os focos de grandes manifestações e para o levantamento de principais figuras dos movimentos. O uso das redes sociais para fins de organização e discussão política é uma expressão direta dos sentimentos que se criaram desde Junho de 2013, com uma juventude querendo romper com os métodos e lógicas tradicionais para buscar alternativas de mobilização.
No último dia 15 de Março, também vimos a internet e as redes sociais cumprindo um papel fundamental na construção de uma resistência que aglutinou centenas de milhares pelas ruas de cidades importantes como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte para lutarem contra as reformas impostas por Michel Temer. Agora com a perspectiva de uma forte greve geral que conta com uma série de forças (como o próprio Esquerda Diário) empenhadas na construção da luta no dia 28 de Abril que não dependam inteiramente da iniciativa de centrais sindicais como a CUT e a CTB, podemos entender o porquê de uma empresa de monitoramento receber o quinto maior salário na folha de pagamento do Planalto.
Devemos tomar como nossa tarefa o uso de todas as ferramentas, desde as organizações de base nos locais de trabalho e de estudo até as nossas conexões nas redes sociais e de informação pública para mostrar nossa força e provar que atitudes como essas tomadas pelo governo golpista não são capazes de colocar amarras na necessidade e urgência de mobilização durante esse momento de crise.
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